Desenvolvimento de implante subdérmico para tratamento da doença de Alzheimer

Por Izabelle M. Gindri | 17 · Outubro · 2018

Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é uma desordem neurodegenerativa cerebral, progressiva e crônica, caracterizada por déficits em memória e função cognitiva1. Esta patologia atinge 6 – 8% das pessoas com idade de 65 anos e 30% da população com mais de 85 anos12. No Brasil, o número de pessoas com a doença já atinge cerca de 1,2 milhões e segundo a Associação Brasileira de Alzheimer estima-se a duplicação desse número até 20302. Embora a doença de Alzheimer não tenha cura, existem tratamentos disponíveis para controle do avanço da progressão da doença. Os anticolinérgicos e antagonistas de receptores NMDA, constituem as duas únicas classes medicamentosas aprovadas para o tratamento da Doença de Alzheimer3. Os anticolinérgicos são ser considerados como padrões no cuidado da doença em níveis iniciais a moderados. Em estágios mais avançados indica-se o uso do antagonista de receptores de N-metil-d-aspartato memantina, isoladamente ou associada aos anticolinesterásicos45.

A doença de Alzheimer tem efeitos intensos na qualidade de vida do paciente e familiares. Dada a natureza progressiva da doença, tratamentos que estabilizam os sintomas e retardam a progressão da doença apresentam importantes benefícios67. Em estudo observacional com 445 pacientes, verificou-se que após a utilização da medicação anticolinesterásica por 1 ano, houve redução do risco de rápida deterioração cognitiva e de institucionalização destes pacientes. Isto indica que pacientes que aderem as terapias medicamentosas tem uma maior chance de reduzir ou retardar a progressão dos sintomas, aumentando a qualidade de vida. Além disso, a redução na necessidade de institucionalização precoce destes pacientes apresenta importante redução no impacto financeiro67. Até meados de 2007 a terapia medicamentosa da Doença de Alzheimer era baseada na administração oral, onde a taxa e adesão ao tratamento apresentava valores de 50 – 82%6. Entre os principais fatores de desistência do tratamento destacam-se a necessidade de acompanhamento por profissional assistencial ou familiares, periodicidade do tratamento e efeitos adversos, que se caracterizam principalmente por alterações gastrointestinais como náusea, vômito e perda de apetite. A incidência dos efeitos adversos aumenta com a administração oral devido as maiores flutuações plasmáticas do fármaco6. Estes efeitos foram amenizados com a utilização de adesivos transdérmicos para liberação de fármacos, onde além do aumento da adesão dos pacientes verificou-se redução dos efeitos colaterais689. Devido as vantagens associadas a esta formulação farmacêutica, o adesivo foi incorporado no Sistema Unificado de Saúde no Brasil em 20162. Porém, esta formulação ainda apresenta limitações, como a necessidade da troca do adesivo a cada 24 horas e problemas como sensibilidade, irritação, e descolamento da pele do paciente10.

Doença de Alzheimer

Desta forma observou-se a necessidade de novas estratégias que levem a uma melhor adesão ao tratamento bem como redução dos efeitos colaterais em pacientes com a Doença de Alzheimer. Neste contexto, a Iaso Biodelivery identificou alto potencial de aplicação da tecnologia em desenvolvimento pela empresa que consiste de implantes subdérmicos com sistema de liberação de fármacos. O implante esta sendo desenvolvido para que quando introduzido pela via subdérmica, libere doses controladas de medicamentos por períodos prolongados de tempo. O implante proposto busca melhorar o controle sobre progressão da doença e sintomas, resultando na melhora da qualidade de vida dos pacientes e redução dos custos associados ao tratamento da doença.


  1. X. Du, X. Wang, M. Geng, Alzheimer’s disease hypothesis and related therapies, Transl. Neurodegener. 7 (2018) 1–7. doi:10.1186/s40035-018-0107-y.
  2. A. De Falco, D.S. Cukierman, R.A. Hauser-Davis, N.A. Rey, Doença de Alzheimer: Hipóteses etiológicas e perspectivas de tratamento, Quim. Nova. 39 (2016) 63–80. doi:10.5935/0100-4042.20150152.
  3. Alzheimer´s Association, FDA-approved treatments for Alzheimer’s, (2017). https://www.alz.org/media/Documents/fda-approved-treatments-alzheimers-ts.pdf (accessed July 23, 2018).
  4. R. Nitrini, P. Caramelli, C.M. de C. Bottino, B.P. Damasceno, S.M.D. Brucki, R. Anghinah, Tratamento da Doença de Alzheimer, Arq Neuro-Psiquiatr. 63 (2005) 1104–12. doi:http://dx.doi.org/10.1590/S0004-282X2005000600035.
  5. S.A. Yehia, A.H. Elshafeey, I. Elsayed, Biodegradable donepezil lipospheres for depot injection: Optimization and in-vivo evaluation, J. Pharm. Pharmacol. 64 (2012) 1425–1437. doi:10.1111/j.2042-7158.2012.01530.x.
  6. S. Lima, M. Gago, C. Garrett, M.G. Pereira, Medication adherence in Alzheimer’s disease: The mediator role of mindfulness, Arch. Gerontol. Geriatr. 67 (2016) 92–97. doi:10.1016/j.archger.2016.06.021.
  7. R. Brady, J. Weinman, Adherence to cholinesterase inhibitors in Alzheimer’s Disease: A review, Dement. Geriatr. Cogn. Disord. 35 (2013) 351–363. doi:10.1159/000347140.
  8. P. Sozio, L.S. Cerasa, L. Marinelli, A. Di Stefano, Transdermal donepezil on the treatment of Alzheimer’s disease, Neuropsychiatr. Dis. Treat. 8 (2012) 361–368. doi:10.2147/NDT.S16089.
  9. A. Di Stefano, A. Iannitelli, S. Laserra, P. Sozio, Drug delivery strategies for Alzheimer’s disease treatment, Expert Opin. Drug Deliv. 8 (2011) 581–603. doi:10.1517/17425247.2011.561311.
  10. Novartis Biociências SA, Exelon Patch (Rivastigmina), (n.d.). http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=23574372016&pIdAnexo=3933178 (accessed July 17, 2018).